terça-feira, 27 de outubro de 2015

Texto com interpretação 9º ano

   A liberdade e o consumo

Quantos morreram pela liberdade de sua pátria? Quantos foram presos ou espancados pela liberdade de dizer o que pensam? Quantos lutaram pela libertação dos escravos?

No plano intelectual, o tema da liberdade ocupa as melhores cabeças, desde Platão e Sócrates, passando por Santo Agostinho, Spinoza, Locke, Hobbes, Hegel, Kant, Stuart Mill, Tolstoi e muitos outros. Como conciliar a liberdade com a inevitável ação restritiva do Estado? Como as liberdades essenciais se transformam em direitos do cidadão? Essas questões puseram em choque os melhores neurônios da filosofia, mas não foram as únicas a galvanizar controvérsias.

Mas vivemos hoje em uma sociedade em que a maioria já não sofre agressões a essas liberdades tão vitais, cuja conquista ou reconquista desencadeou descomunais energias físicas e intelectuais. Nosso apetite pela liberdade se aburguesou. Foi atraído (corrompido?) pelas tentações da sociedade de consumo.

O que é percebido como liberdade para um pacato cidadão contemporâneo que vota, fala o que quer, vive sob o manto da lei (ainda que capenga) e tem direito de mover-se livremente?

O primeiro templo da liberdade burguesa é o supermercado. Em que pesem as angustiantes restrições do contracheque, são as prateleiras abundantemente supridas que satisfazem a liberdade do consumo (não faz muitas décadas, nas prateleiras dos nossos armazéns ora faltava manteiga, ora leite, ora feijão). Não houve ideal comunista que resistisse às tentações do supermercado. Logo depois da queda do Muro de Berlim, comer uma banana virou ícone da liberdade no Leste Europeu.

A segunda liberdade moderna é o transporte próprio. BMW ou bicicleta, o que conta é a sensação de poder sentar-se ao veículo e resolver em que direção partir. Podemos até não ir a lugar algum, mas é gostoso saber que há um veículo parado à porta, concedendo permanentemente a liberdade de ir, seja aonde for. Alguém já disse que a Vespa e a Lambretta tiraram o fervor revolucionário que poderia ter levado a Itália ao comunismo.

A terceira liberdade é a televisão. É a janela para o mundo. É a liberdade de escolher os canais (restritos em países totalitários), de ver um programa imbecil ou um jogo, ou estar tão perto das notícias quanto um presidente da República - que nos momentos dramáticos pode assistir às mesmas cenas pela CNN. É estar próximo de reis, heróis, criminosos, superatletas ou cafajestes metamorfoseados em apresentadores de TV.

Uma ''liberdade'' recente é o telefone celular. É o gostinho todo especial de ser capaz de falar com qualquer pessoa, em qualquer momento, onde quer que se esteja. Importante? Para algumas pessoas, é uma revolução no cotidiano e na profissão. Para outras, é apenas o prazer de saber que a distância não mais cerceia a comunicação, por boba que seja.

Há ainda uma última liberdade, mais nova, ainda elitizada: a internet e o correio eletrônico. É um correio sem as peripécias e demoras do carteiro, instantâneo, sem remorsos pelo tamanho da mensagem (que se dane o destinatário do nosso attachment megabáitico) e que está a nosso dispor, onde quer que estejamos. E acoplado a ele vem a web, com sua cacofonia de informações, excessivas e desencontradas, onde se compra e vende, consomem-se filosofia e pornografia, arte e empulhação.

Causa certo desconforto intelectual ver substituídas por objetos de consumo as discussões filosóficas sobre liberdade e o heroísmo dos atos que levaram à sua preservação em múltiplos domínios da existência humana. Mas assim é a nossa natureza, só nos preocupamos com o que não temos ou com o que está ameaçado. Se há um consolo nisso, ele está no saber que a preeminência de nossas liberdades consumistas marca a vitória de havermos conquistado as outras liberdades, mais vitais. Mas, infelizmente, deleitar-se com a alienação do consumismo está fora do horizonte de muitos. E, se o filósofo Joãozinho Trinta tem razão, não é por desdenhar os luxos, mas por não poder desfrutá-los. 

Cláudio de Moura Castro Veja 1712, 8/8/01


01. O primeiro parágrafo do texto apresenta: 

A) uma série de perguntas que são respondidas no desenrolar do texto; 
B) uma estrutura que procura destacar os itens básicos do tema discutido no texto; 
C) um questionamento que pretende despertar o interesse do leitor pelas respostas; 
D) um conjunto de perguntas retóricas, ou seja, que não necessitam de respostas; 
E) umas questões que pretendem realçar o valor histórico de alguns heróis nacionais. 

02. Nos itens abaixo, o emprego da conjunção OU (em maiúsculas) só tem nítido valor alternativo em: 

A) ''Quantos foram presos OU espancados pela liberdade de dizer o que pensam?''; 
B) ''A segunda liberdade moderna é o transporte próprio, BMW OU bicicleta...''; 
C) ''...de ver um programa imbecil ou um jogo, OU estar tão perto das notícias...''; 
D) ''...só nos preocupamos com o que não temos OU com o que está ameaçado.''; 
E) ''É estar próximo de reis, heróis, criminosos, superatletas OU cafajestes...''. 

03. O item abaixo que indica corretamente o significado da palavra em maiúsculas no texto é: 

A) ''...mas não foram as únicas a GALVANIZAR controvérsias.'' - discutir; 
B) ''...comer uma banana virou um ÍCONE da liberdade no Leste europeu.''- fantasia; 
C) ''...consomem-se filosofia e pornografia, arte e EMPULHAÇÃO.''; grosseria; 
D) ''...cafajestes METAMORFOSEADOS em apresentadores de TV.'' - desfigurados; 
E) ''...que a distância não mais CERCEIA a comunicação...''- impede. 

04. ''Como conciliar a liberdade com a inevitável ação restritiva do Estado?''; nesse segmento do texto, o articulista afirma que: 

A) o Estado age obrigatoriamente contra a liberdade; 
B) é impossível haver liberdade e governo ditatorial; 
C) ainda não se chegou a unir os cidadãos e o governo; 
D) cidadãos e governo devem trabalhar juntos pela liberdade; 
E) o Estado é o responsável pela liberdade da população. 

05. ''...concedendo permanentemente a liberdade de ir, seja AONDE for.''; ''...em qualquer momento, ONDE quer que se esteja.'' ; o emprego das palavras em maiúsculas mostra que: 

A) ONDE e AONDE são palavras equivalentes; 
B) AONDE é forma popular (e errada) correspondente a ONDE; 
C) a diferença de formas depende da regência do verbo da frase; 
D) só ONDE representa a ideia de lugar; 
E) AONDE se refere a locais vagos enquanto ONDE se refere a lugares específicos. 

06. ''O primeiro templo da liberdade burguesa é o supermercado. Em que pesem as angustiantes restrições do contracheque, são as prateleiras abundantemente supridas que satisfazem a liberdade do consumo...''; o segmento sublinhado corresponde semanticamente a: 

A) as despesas do supermercado são muito pesadas no orçamento doméstico; 
B) os salários não permitem que se compre tudo o que se deseja; 
C) as limitações de crédito impedem que se compre o necessário; 
D) a inflação prejudica o acesso da população aos bens de consumo; 
E) a satisfação de comprar só é permitida após o recebimento do salário. 

07. ''Não houve ideal comunista que resistisse às tentações do supermercado''.; com esse segmento do texto o autor quer dizer que: 

A) todo ideal comunista se opõe aos ideais capitalistas; 
B) a ideologia comunista sofre pressões por parte dos consumidores; 
C) os supermercados socialistas são menos variados que os do mundo capitalista; 
D) o ideal comunista ainda resiste à procura desenfreada por bens de consumo; 
E) as tentações do supermercado abalaram as estruturas capitalistas. 

08. “É a liberdade de escolher os canais (restritos em países totalitários),...”; o segmento sublinhado significa que: 

A) nos países totalitários a censura impede o acesso à programação capitalista; 
B) o número de canais disponíveis é bem menor do que nos países não-totalitários; 
C) a televisão, nos países totalitários, é bem de que só poucos dispõem; 
D) nos países totalitários todos os canais são do sistema de TV a cabo; 
E) nos países totalitários, a TV não sofre censura governamental. 

09. ''Há ainda uma última liberdade, mais nova, ainda elitizada:...''; o item abaixo em que as vírgulas são empregadas pelo mesmo motivo das que aparecem nesse segmento destacado do texto é: 

A) ''O que é percebido como liberdade para um pacato cidadão contemporâneo que vota, fala o que quer, vive sob o manto da lei...''; 
B) ''Logo depois da queda do muro de Berlim, comer uma banana virou um ícone da liberdade no Leste Europeu.''; 
C) ''A segunda liberdade moderna é o transporte próprio, BMW ou bicicleta, o que conta é a sensação de poder sentar-se ao veículo...''; 
D) ''É estar próximo de reis, heróis, criminosos, superatletas ou cafajestes...''; 
E) ''Para outras, é apenas o prazer de saber que a distância não mais cerceia a comunicação, por boba que seja.'' 

10. A frase abaixo que se encontra na voz passiva é: 

A) ''Quantos morreram pela liberdade de sua pátria?''; 
B) ''Quantos foram presos ou espancados pela liberdade de dizer o que pensam?''; 
C) ''Quantos lutaram pela libertação dos escravos?''; 
D) ''O primeiro templo da sociedade burguesa é o supermercado.''; 
E) ''...a maioria já não sofre agressões a essas liberdades tão vitais,...''. 

GABARITO

01-D | 02-B | 03-E | 04-A | 05-C | 06-B | 07-B | 08-B | 09-C | 10-B

13 comentários:

  1. Eu acho que a resposta da questão dois está errada.A conjunção tem valor alternativo quando exprime alternativas, ou...ou. No caso a única que exprime essa situação é a letra c) ''...de ver um programa imbecil ou um jogo, OU estar tão perto das notícias...''

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  2. COMUNISMO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. Como conciliar a liberdade com a inevitável ação restritiva do estado?;nesse segmento do texto , articulista afins que

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