terça-feira, 2 de setembro de 2014

texto e intwerpretção- 9º ano

Duas e três - crônica- Interpretação 8º/9º anos

Duas e três


Levei um susto quando aquela voz soprou em minha nuca:
          - Se tu é bom, mata essa: “Não durmo no Rio porque tenho pressa; duas e três.”
 Voltei-me para ver quem falava. Era um homem quarentão, alto e gorducho, de roupas imundas, rasgadas, e cara encardida. Uma cara simpática de gângster regenerado.
 Ele ria:
- Mata essa, vamos!
 Era de manhã cedo, em junho, e fazia um frio agradável. Acordara e, sem ter para onde ir, sentei-me naquele banco da praça Floriano, em frente à Biblioteca Nacional, à espera de que ela abrisse. Meu velho terno marrom esfiapava nas mangas, o sapato empoeirado, a barba por fazer. “Esse homem está me tomando por um vagabundo”, pensei comigo. E achei divertido.
          - Matar o quê?
  - A charada, meu besta!
O velho se debruçava em cima de mim, com um riso gozador. Fedia a suor e molambo. Afastei-o um pouco, com o braço e, meio sem saber o que fizesse, acedi.
 - Como é mesmo a charada?
- Só repito esta vez, tá bom? “Não durmo no Rio porque tenho pressa; duas e três”
          Sempre fui um fracasso para matar charadas. Fiz um esforço para penetrar nas palavras, mas em vão.
         - Digo mais. – esclareceu-me o vagabundo. – Chaves: “Não durmo no Rio” e “Rio”. Conceito: “pressa”... Mas você é burro, hei.
Donde diabo viera aquele cara impertinente, para me obrigar a resolver uma charada àquela hora da manhã? Mas meu orgulho estava em jogo. Pensava e o pensamento escapulia.
         - Não consigo decifrar. Não me amola.
- Então você perdeu.
- É, perdi.
- Então paga.
- Paga o quê?
- Duas pratas, meu Zé. Você perdeu!
 Era incrível. Comecei a rir. Ele também ria e dizia: “Paga, duas pratas.” Dei-lhe uma cédula de dois cruzeiros e fiquei ali rindo enquanto ele se afastava arrastando seus sapatos furados.
Semanas depois, estava eu no Passeio Público, quando ele veio com a mesma conversa, com se nunca me tivesse visto. “Mata essa: não durmo no Rio, porque tenho pressa; duas e três.” Respondi-lhe em cima da bucha: “Não durmo, velo; no Rio. cidade: velocidade. “Ele ficou desapontado. “Você perdeu”, disse-lhe eu.“Paga duas pratas.” Olhou-me sério, meteu a mão no bolso e estendeu-me duas notas imundas. Fomos tomar juntos um café na Lapa.

GULLAR, Ferreira. O melhor da crônica brasileira. 1 Ferreira
Gullar...[ET al.]. – 5ª Ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.


Após ler o texto com atenção, responda as questões abaixo:


01.A narrativa está em 1ª ou 3ª pessoa? Retire do texto um trecho que justifique sua resposta.

02. Onde e  quando aconteceu o primeiro encontro entre os dois homens?

03.Para o narrador o que lhe pareceu ser o homem que o abordara?Assinale a alternativa correta:
a) um vagabundo de rua            b) um mágico de rua
c)  um vigarista                           d) um trabalhador desempregado

04. Assinale a alternativa correta:
a) O narrador achou muito comum e normal a  abordagem que lhe foi feita pelo homem.
b )O narrador repeliu, veementemente, o homem.
c) Apesar de ter achado estranha a abordagem, o narrador acabou se envolvendo com a simpatia do desconhecido.
d) O estranho queria extorquir o narrador.

05. Qual a palavra que melhor se aproxima de um sinônimo para a palavra charada?
a) duelo                  b) disputa                 c) comando                 d) enigma    
06. Na frase “Este homem está me tomando por um vagabundo.” a expressão
destacada significa:
a)“parecendo com”                          b) “comparando com”
c) “acompanhado por”                    d) “discordando de”

07. O narrador pagou duas pratas ao velho porque:

a)jamais estivera naquela situação.
b)pela conversa agradável do homem.
c)não conseguiu decifrar a charada.
d)porque o homem estava com fome.

08. Em “Mata essa, vamos!” o termo destacado tem o mesmo sentido de:

a) elimina             b) abate                    c) extermine                  d) resolve

09. O texto se desenvolveu em torno:

a)da amizade impossível entre duas pessoas que pouco se conheciam.
b)da camaradagem entre dois homens apreciadores de charadas
c)do encontro inesperado entre pessoas que não se conheciam
d)do hábito das pessoas frequentarem praças e bibliotecas


10.A que se referem as palavras duas e três, que formam o título do texto?


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

texto e interpretação- 9º ano

° Texto

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. (Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas)

1) Pode-se afirmar, com base nas idéias do autor-personagem, que se trata: 
a) de um texto jornalístico 
b) de um texto religioso 
c) de um texto científico 
d) de um texto autobiográfico 
e) de um texto teatral

2) Para o autor-personagem, é menos comum: 
a) começar um livro por seu nascimento. 
b) não começar um livro por seu nascimento, nem por sua morte. 
c) começar um livro por sua morte. 
d) não começar um livro por sua morte. 
e) começar um livro ao mesmo tempo pelo nascimento e pela morte.

3) Deduz-se do texto que o autor-personagem: 
a) está morrendo. 
b) já morreu. 
c) não quer morrer. 
d) não vai morrer. 
e) renasceu.

4) A semelhança entre o autor e Moisés é que ambos: 
a) escreveram livros. 
b) se preocupam com a vida e a morte. 
c) não foram compreendidos. 
d) valorizam a morte. 
e) falam sobre suas mortes.

5) A diferença capital entre o autor e Moisés é que: 
a) o autor fala da morte; Moisés, da vida. 
b) o livro do autor é de memórias; o de Moisés, religioso. 
c) o autor começa pelo nascimento; Moisés, pela morte. 
d) Moisés começa pelo nascimento; o autor, pela morte. 
e) o livro do autor é mais novo e galante do que o de Moisés.

6) Deduz-se pelo texto que o Pentateuco: 
a) não fala da morte de Moisés. 
b) foi lido pelo autor do texto. 
c) foi escrito por Moisés. 
d) só fala da vida de Moisés. 
e) serviu de modelo ao autor do texto.

7) Autor defunto está para campa, assim como defunto autor para: 
a) intróito 
b) princípio 
c) cabo 
d) berço 
e) fim

8) Dizendo-se um defunto autor, o autor destaca seu (sua): 
a) conformismo diante da morte ; 
b) tristeza por se sentir morto 
c) resistência diante dos obstáculos trazidos pela nova situação 
d) otimismo quanto ao futuro literário 
e) atividade apesar de estar morto

GABARITO:
1-d 2-c 3-b 4-e 5-d 6-c 7-d 8-e
Poderá ta