segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Texto e interpretação - 8º ano

O texto abaixo é de Millôr Fernandes, escritor que se distingue por tratar de maneira quase sempre humorística, de assuntos os mais variáveis; sociedade, política, família, o cotidiano…
O texto apresentado é uma espécie de fábula que, ao contrário das tradicionais, tem como personagem principal um ser humano e em que a moral não pode ser tomada rigorosamente como um ensinamento, uma vez que não envolve, como no caso das fábulas tradicionais, erros ou defeitos graves dos seres humanos.
NO DIA EM QUE O GATO FALOU
(Millôr Fernandes)
          Era uma vez uma dama gentil e senil que tinha um gato siamês. Gato de raça, de bom-tom, de filiação, de ânimo cristão. Lindo gato, gato terno, amigo, pertencente a uma classe quase extinta de antigos deuses egípcios. Este gato só faltava falar.  Manso e inteligente, seu olhar era humano. Mas falar não falava. E sua dona, triste, todo dia passava uma ou duas horas, repetindo sílabas e palavras para ele na esperança de que um dia aquela inteligência que via em seu olhar explodisse em sons compreensivos e claros. Mas, nada!
              A dama gentil e senil era, naturalmente, incapaz de compreender  o fenômeno. Tanto mais que ali mesmo à sua frente, preso a um poleiro de ferro, estava um outro ser, também animal, inferior até ao gato, pois era somente uma pobre ave, mas que falava! Falava mesmo, muito mais do que devia. Um papagaio, que falava pelas tripas do Judas. Curiosa natureza, pensava a mulher, que fazia um gato quase humano, sem fala, e um papagaio cretino mas parlapatão. E quanto mais meditava mais tempo gastava com o gato no colo, tentando métodos, repetindo silabas, redobrando cuidados para ver se conseguia que seu miado virasse fala.
          Exatamente no dia 16 de maio de 1958 foi que teve a ideia genial. Quando a ideia iluminou seu cérebro, veio acompanhada da critica, auto-crítica: “Mas, como não me ocorreu isso antes?” O papagaio viu no brilho do olhar da dona o seu (dele) terrível destino e tentou escapar, mas estava preso.Foi morto, depenado e cozinhado em menos de uma hora. Pois o raciocínio da mulher era lógico e científico: se 25.      desse ao gato o papagaio como alimentação, não era evidente que o     gato começaria a falar? Era? Não era? Veria. O gato, a princípio, não quis comer o companheiro. Temendo ver fracassado o seu experimento científico, a dama gentil e senil procurou forçá-lo. Não conseguindo que o gato comesse o papagaio, bateu-lhe mesmo – horror! – pela primeira vez. Mas o gato se recusou. Duas horas depois, porém, vencido pela fome, aproximou-se do prato e engoliu o papagaio todo. Imediatamente subiu-lhe uma ânsia do estômago, ele olhou para a dona e, enquanto esta chorava de alegria, começou a gritar (num tom meio currupaco, meio miau-miau-miau, mas perfeitamente compreensível):
– Madame, foge pelo amor de Deus! Foge, madame, que o prédio vai cair!
A mulher, tremendo de emoção e alegria, chorando e rindo, pôs-se a gritar por sua vez.
– Vejam, vejam, meu gatinho fala! Milagre! Fala o meu gatinho!
Mas o gato, fugindo ao seu abraço, saltou para a janela e gritou de novo: – Foge, madame, que o prédio vai cair! Madame, foge! – e pulou para a rua.
Nesse momento, com um estrondo monstruoso, o prédio inteiro veio abaixo, sepultando a dama gentil e senil em meio aos seus  escombros.
O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio, ficou vendo o tumulto diante do desastre e comentou apenas, com um gato mais pobre que passava: – Veja só que cretina. Passou a vida inteira para fazer eu falar e no momento em que falei, não me prestou a mínima atenção.
MORAL: O mal do artista é não acreditar na própria criação.
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Marque com um X o sinônimo das palavras ou expressões em destaque:

1. Em: ”… gato de raça, de bom-tom…”, a expressão em destaque refere-se à pessoa que é:
a.(   ) rica         b.(   ) bondosa       c.(   ) fina          d.(   ) natural
2. A  frase: “Este gato só faltava falar”  tem o mesmo significado que:
a.(   ) Este gato, quando fica só, tenta falar.
b.(   ) Falar é só o que falta a este gato.
c.(   ) Só este gato é que falta falar.
d.(   ) Só este gato é que tenta falar.
3. Em: “Manso e inteligente, seu olhar era humano”, a palavra em destaque significa:
a.(   ) próprio do homem     b.(   ) bondoso
c.(   ) submisso                      d.(   ) que ama os seus semelhantes
4. Em: “Curiosa natureza, pensava a mulher…” a palavra em destaque tem o mesmo significado que em:
a.(   ) Vive arranjando confusões de toda a natureza.
b.(   ) Ele contemplava a natureza com olhos de artista.
c.(   ) Aquele rapaz tem péssima natureza.
d.(   ) Conservava, aos quarenta anos, todas as boas qualidades de sua natureza.
5. Em: “…e um papagaio cretino mas parlapatão…” a expressão em destaque indica que o papagaio era:
a.(   ) pouco inteligente mas muito falante
b.(   ) meio amalucado mas bonachão
c.(   ) pouco instruído mas muito observador
6. Em: “E quanto mais meditava mais tempo gastava…” a palavra em destaque significa:
a.(   ) planejava      b.(   ) pensava     c.(   ) examinava      d.(   ) estudava
7. Relacione as colunas de modo a fazer a correspondência entre as palavras que se seguem, formadas porauto e sua significação.
1. (   ) autocrítica                 a. vida de um indivíduo escrita por ele mesmo
2. (   ) autopunição              b. crítica feita por alguém a si mesmo
3. (   ) autobiografia            c. avaliação feita por um indivíduo para provar a ele próprio que sabe determinados conhecimentos
4. (   ) automóvel                  d. Veículo que se locomove por seus próprios meios
5. (   ) auto-retrato                e. castigo imposto por um indivíduo a si mesmo
6. (   ) autoa-valiação          f. retrato de um indivíduo feito por ele mesmo

8. Em: “Temendo ver fracassado o seu experimento científico…”  a palavra em destaque significa:
a.(   ) quebrado                  b.(   ) reduzido a pedaços
c.(   ) mal-acabado           d.(   ) malsucedido
9. Em: “…sepultando a dama gentil…”  a palavra em destaque significa:
a.(   ) escondendo     b.(   ) isolando    c.(   ) soterrando     d.(   ) abrigando
10. Em: “…em meio aos escombros…” a palavra em destaque significa:
a.(   ) restos de construção desmoronados
b.(   ) cinzas resultantes de um incêndio
c.(   ) ruídos provocados por um desmoronamento
d.(   ) substâncias venenosas
11. Em: “O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio…” a palavra em destaque significa:
a.(   ) assustadoramente          b.(   ) tristemente
c.(   ) nervosamente                d.(   ) timidamente

Assinale a alternativa correta, de acordo com o texto.
12. São características da dama:
a.(   ) bondade, simpatia e inteligência
b.(   ) coragem, simpatia e desenvoltura
c.(   ) persistência, teimosia e velhice
13. O gato da dama é apresentado como sendo um animal:
a.(   ) bonito, terno, amigo, de boa raça e inteligente
b.(   ) bonito, inteligente, pacífico e preguiçoso
c.(   ) terno, amigo, raro e preguiçoso
d.(   ) bonito, terno, corajoso e inteligente
14. O fenômeno que a dama não conseguia compreender era:
a.(   ) a burrice do gato                          b.(   ) a mudez do papagaio
c.(   ) a inteligência do papagaio        d.(   ) a mudez do gato
15. O papagaio percebeu o que estava para acontecer-lhe quando:
a.(   ) olhou para a sua dona         b.(   ) escutou o que sua dona dizia
c.(   ) aproximou-se do gato          d.(   ) já estava para ser morto
16. Ao ter a ideia genial, a dama sentiu-se:
a.(   ) arrependida por ter que sacrificar a ave
b.(   ) satisfeita e recompensada
c.(   ) pesarosa pelo fato de a ideia não lhe ter ocorrido antes
d.(   ) temerosa de não estar certa
17. A operação que envolve a morte do papagaio até a ingestão do alimento por parte do gato durou aproximadamente:
a.(   ) 1 hora      b.(   ) 2 horas      c.(   ) 3 horas    d.(   ) 24 horas

Responda com sua palavras:
18. Quanto tempo era gasto diariamente pela dama com os métodos de ensino ao gato?
19. Quando foi que ocorreu à dama a fórmula que lhe pareceu adequada para fazer com que o gato falasse?
________________________________________________________
GABARITO
1. c     2. B    3. A      4. B     5. A     6. B     7. A seqüência é: b, e,  a, d, f, c       8. D     9. C
10. a     11. B     12. C     13. A      14. D    15. A     16. C      17. C
18. Todo dia a dama gastava uma a duas horas tentando ensinar o gato a falar.
19. Exatamente no dia 16 de maio de 1958.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Texto e interpretação 8º ano

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - 8º ANO


Prova de interpretação de texto
                                            ESOPO
Esopo era um escravo de rara inteligência que servia à casa de um conhecido chefe militar da antiga Grécia. Certo dia, em que seu patrão conversava com outro companheiro sobre os males e as virtudes do mundo, Esopo foi chamado a dar a sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu seguramente:

-- Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra está á venda no mercado.

-- Como? – perguntou o amo, surpreso – Tens certeza do que estás falando? Como podes afirmar tal coisa?

-- Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei até lá e trarei a maior virtude da Terra.

Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e, dali a alguns minutos, voltou carregando um pequeno embrulho. Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de língua e, enfurecido, deu ao escravo uma chance para se explicar.

-- Meu amo, não vos enganei – retrucou Esopo --- A língua é, realmente, a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar, esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinos dos filósofos são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras dos poetas se tornam conhecidas de todos. Acaso podeis negar essas verdades, meu amo?

-- Boa, meu caro – retrucou o amo – Já que és desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo?

-- É perfeitamente possível, senhor. E com nova autorização de meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de toda Terra.

Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e dali a minutos voltava com outro pacote, semelhante ao primeiro. Ao abri-lo, o amo encontrou novamente pedaços de língua. Desapontado, interrogou o escravo e obteve dele surpreendente resposta:

-- Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando relegada a planos inferiores, se transforma no pior dos vícios. Através dela tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela, as verdades mais santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas e apresentadas como anedotas vulgares e sem sentido. Através da língua, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio social. Acaso podeis refutar o que digo? – indagou Esopo.

Impressionado com a inteligência invulgar do serviçal, o senhor calou-se, comovido, e, no mesmo instante, reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como escravo, deu-lhe a liberdade.

Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um contador de fábulas muito conhecido da Antiguidade, cujas histórias até hoje se espalham por todo o mundo.
(Autor desconhecido)

1) Essa narrativa tem como protagonistas:
a-( ) o amo e o patrão
b-( ) o chefe militar e o escravo
c-( ) o companheiro e o patrão
d-( ) o servo e o escravo

2) A passagem “indagou Esopo” pode ser escrita, mantendo-se o mesmo sentido, como:
a-( ) respondeu Esopo;
b-( ) percebeu Esopo;
c-( ) perguntou Esopo;
d-( ) assegurou Esopo;

3) Segundo o texto, a língua tanto serve para as virtudes quanto para os vícios do mundo. Como exemplo de virtude e vício, respectivamente, podem-se citar:
a-( ) ensinamentos filosóficos e conceitos religiosos;
b-( ) discussões infrutíferas e obras literárias;
c-( ) rede de intrigas e desentendimentos;
d-( ) ensinamento das verdades santas e criação de anedotas vulgares;

4) Em “impressionado com a inteligência invulgar do serviçal...”, o adjetivo destacado significa:
a-( ) rara
b-( ) medíocre
c-( ) impopular
d-( ) respeitosa

5) Em “Já que és desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo?”, a oração destacada tem o sentido de:
a-( ) finalidade
b-( ) condição
c-( ) causa
d-( ) consequência

6) De acordo com o texto, quando a língua é mal utilizada, intrigas e violências verbais podem ser:
a-( ) confrontadas
b-( ) armadas
c-( ) superadas
d-( ) rejeitadas

7) Em “por ela mesma ensinadas...”, a palavra destacada está no feminino plural em concordância com:
a-( ) “violências”
b-( ) “anedotas”
c-( ) “verdades”
d-( ) “discussões”

8) Em “Ao abri-lo”, o pronome foi usado para substituir a seguinte palavra:
a-( ) pacote
b-( ) amo
c-( ) primeiro
d-( ) Esopo

9) O sentido de negação, em determinadas palavras, é dado por prefixos, como em:
a-( ) “impressionado” e “intrigas”
b-( ) “infrutíferas” e “desentendimentos”
c-( ) “desapontado” e “inteligência”
d-( ) “interrogou” e “ensinadas”

10) Nessa história, a libertação do escravo se deve ao fato de Esopo:
a-( ) fazer boas compras
b-( ) ser educado
c-( ) falar muito bem
d-( ) ter grande sabedoria

GABARITO
1-a ; 2-c ; 3-d; 4-a ; 5-d ; 6-b ; 7-c ; 8-a ; 9-b ; 10-d

sábado, 15 de novembro de 2014

texto e interpretação- 9º ano

Quando a rede vira um vício 

É difícil perceber o momento em que alguém deixa de fazer  uso saudável e produtivo da internet para estabelecer com ela uma relação de dependência — como já se vê em parcela preocupante dos jovens


Com o título “Preciso de ajuda”, Carolina G. fez um desabafo aos integrantes da comunidade Viciados em Internet Anônimos, a que pertence:
“Estou muito dependente da web. Não consigo mais viver normalmente”. Essas frases dão a dimensão do tormento provocado pela dependência da internet, um mal que começa a ganhar relevo estatístico, sobretudo entre jovens de 15 a 29 anos.
Os estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises de abstinência quando está desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia, mas não percebe que vai, aos poucos, perdendo os elos com o mundo real até se aprisionar num universo paralelo e completamente virtual.
Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da rede para estabelecer com ela uma relação doentia, porém, em todos os casos, a internet era apenas útil ou divertida e foi ganhando um espaço central, a ponto de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido.


Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem para a gravidade do que ocorria. Para o psiquiatra Daniel Spritzer, “a internet faz parte do dia a dia dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa fase da vida, por isso a família raramente detecta o problema antes de ele ter fugido ao controle”.
A ciência, por sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença. De saída, o tempo na internet aumenta até culminar, pasme-se, numa rotina de catorze horas diárias, e as situações vividas na rede passam, então, a habitar mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda um ganho de peso relevante, resultado da troca de refeições por sanduíches – que prescindem de talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Gradativamente, a vida social vai se extinguindo, como alerta a psicóloga Ceres Araujo: “Se a pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas não vão bem”.
Com a rede, afinal, descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades modernas, não faz sentido se privar, portanto toda a questão gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um consenso acerca do razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e adolescentes. Desse modo, reduz-se drasticamente a possibilidade de que, no futuro, eles
enfrentem o drama vivido hoje pelos jovens viciados.

(Silvia Rogar e João Figueiredo, revista Veja, 24.03.2010. Adaptado)


1.Questões para interpretação ou discussão:
Qual é o tema da reportagem?

Segundo o texto,  quais são os sintomas desse vício?

E quais podem ser as consequências?

Qual é a sugestão apresentada no texto para lidar com esse problema ou sua prevenção?

Você acha a comparação do vício  em internet com outros tipos de vícios  é muito forte? Justifique sua resposta.

Na sua opinião, faria alguma diferença para o convencimento do leitor se o texto não tivesse exemplos  de pessoas que passaram por esse problema?Justifique sua resposta.
O texto apresenta opinião de especialistas. Quem são  e quais suas especialidades?

2. Produção de  texto
A partir da leitura do texto e de seu conhecimento do assunto, produza um texto sobre o tema O jovem e a Internet

texto e interpretação- 9º ano

CASO DE SECRETÁRIA

Foi trombudo para o escritório. Era dia de seu aniversário, e a esposa nem sequer o abraçara, não fizera a mínima alusão á data. As crianças também tinham se esquecido. Então era assim que a família o tratava? Ele que vivia para seus, que se arrebentava de trabalhar, não merecer um beijo, uma palavra ao menos!
Mas no escritório, havia flores à sua espera, sobre a mesa. Havia o sorriso e o abraço da secretária, que poderia muito bem ter ignorado o aniversário, e entretanto o lembrava. Era mais do que uma auxiliar, atenta, experimentada e eficiente, pé-de-boi da firma, como até então a considerara; era um coração amigo.
Passada a surpresa, sentiu-se ainda mais borocochô: o carinho da secretária não curava, abria mais a ferida. Pois então uma estranha se lembrava dele com tais requintes, e a mulher e os filhos, nada?
Baixou a cabeça, ficou rodando o lápis entre os dedos, sem gosto para viver.
Durante o dia, a secretária redobrou de atenções. Parecia querer consolá-lo, como se medisse toda sua solidão moral, o seu abandono. Sorria, tinha palavras amáveis, e o ditado da correspondência foi entremeado de suaves brincadeiras da parte dela.
            -O Senhor vai comemorar em casa ou numa boate?
Engasgado, confessou-lhe que em parte nenhuma. Fazer anos é uma droga, ninguém gostava dele neste mundo, iria rodar por aí à noite, solitário, como o lobo da estepe.
          - Se o senhor quisesse, podíamos jantar juntos - insinuou ela, discretamente.
E não é que podia mesmo? Em vez de passar uma noite besta, ressentida - o pessoal lá de casa pouco tá ligando -, teria horas amenas, em companhia de uma mulher que - reparava agora -era bem bonita.
Daí por diante o trabalho foi nervoso, nunca mais que se fechava o escritório.Teve vontade de mandar todos embora, para que todos comemorassem o seu aniversário, ele principalmente.Conteve-se, no prazer ansioso da espera.
         - Onde você prefere ir? - perguntou, ao saírem.
         - Se não se importa, vamos passar primeiro em meu apartamento. Preciso trocar de roupa.
          Ótimo, pensou ele;- faz-se a inspeção prévia do terreno, e, quem sabe?
           - Mas antes quero um drinque, para animar - ele retificou.
Foram ao drinque, ele recuperou não só a alegria de viver e fazer anos, como começou a fazê-los pelo avesso, remoçando. Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do braço.
No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse que o usasse sem cerimônia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, não precisava bater - e o sorriso dele, dizendo isto, era uma promessa de felicidade.
Ele nem percebeu ao certo se estava arrumando ou se desarrumando, de tal modo os quinze minutos se atropelaram, querendo virar quinze segundos, no calor escaldante do banheiro e da situação. Liberto da roupa incômoda, abriu a porta do quarto. Lá dentro, sua mulher e seus filhinhos, em coro com a secretária, esperavam-no cantando "Parabéns pra você".

Carlos Drummond de Andrade. Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.

Atividades:
1. Pelo contexto, qual o sentido de:
Trombudo –
Borocochô-
Pé-de-boi -
2. A que gênero pertence o texto lido? Justifique
3. O homem estava trombudo e borocochô porque:
(   ) estava ficando mais velho.
(   ) odiava festa de aniversário.
(   ) sua esposa e seus filhos não lembraram do seu aniversário.
(   ) não gostou das flores que ganhou da secretária.

4.Que história o leitor imagina que será contada?

5. Que história de fato é contada?

6. Que elemento do enredo permite perceber a diferença entre o que se diz na questão 4 e na 5, tornando interessante e envolvente a leitura do texto?

7. O título do texto sugere alguns sentidos. Quais?
8. Depois de ter lido o texto, por que você acha que a secretária lembrou-se do aniversário do chefe?
9. Com que intenção a secretária convidou o chefe para jantar? Como o chefe interpretou a ida ao apartamento dela?

10. Como você imagina a reação do homem ao ver a esposa e os filhos cantando “Parabéns a você”?

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Exercícios sobre vozes verbais e verbos irregulares

Atendendo a pedidos, alguns exercícios para quem quer ter um bom desempenho na próxima prova! Vozes verbais e Verbos irregulares.

1. Preencha as lacunas corretamente, usando os verbos irregulares no tempo pedido:

a. Ainda que eu ____________ o torcedor mais fanático, meu time ainda perde. (Ser/Presente do Subjuntivo)

 b. Eles _____________ muitos amigos, mas todos eles ___________ embora. (Ter/ Ir/ Pretérito Imperfeito do Indicativo)

c. Eu _____________ uma linda canção para você (Compor/ Pretérito Perfeito do Indicativo)

d. Se ele _____________ mais esperto, ___________ o que está acontecendo (Ser/ Ver/ Futuro do Pretérito do Indicativo)

e. João e Maria ________ até a floresta em busca de ouro. (Ir/ Futuro do Presente do Indicativo)

f. Eu ______ o que ________. (Ser/ Presente do Indicativo)

g. Tu ____________ muito dinheiro na poupança antes de falir (Reter/ Pretérito Imperfeito do Indicativo)

h. Vós __________ doentes nestes últimos dias? (Estar/ Pretérito Perfeito do Indicativo)

i. Filipe e eu ____________ para a festa. (Vir/ Presente do Indicativo)

 j. Quando tu __________ o José, me avise. (Ver/ Futuro do Subjuntivo)


2. Identifique as Vozes Verbais usando para Voz Ativa (VA), Passiva Analítica (VPA), Passiva Sintética (VPS) e Reflexiva (VR):
O1. Alugaram-se todas as casas da vila.
02. O garoto feriu-se com o canivete.
03. O homem é corrompido pela sociedade.
04. Consertam-se aparelhos eletrônicos.
05. Felipe plantou uma rosa.
06. Os meninos admiravam a locomotiva.
07. João foi ferido por Paulo.
08. A moça admirava-se no espelho.
09. Não se vê viva alma na praça.
10. Os pais educam os filhos.
11. Os dois pretendentes insultaram-se.
12. O cachorro ficou esmagado pelas rodas do carro.
13. Eu machuquei o rapaz.
14. Todos comeram uma fatia do bolo.
15. Nunca se ouviram queixa dele.
16. A casa foi vendida pelo corretor.
17. Abraçaram-se com alegria e emoção.
18. Ele fez todo o trabalho em apenas um dia.
19. Os dois falaram-se rapidamente.
20. Cortaram o cabelo da criança.
21. Carla foi correr no parque.
22. O cabelo da criança foi cortado.
23. Praticam-se ações humanitárias.
24. O Detento havia sido libertado pelo juiz.
25. A apresentação agradou ao público.

Mais um pouquinho...

3. Continuem classificando as vozes verbais...

1. Eu machuquei o rapaz.
2.  Todos comeram uma fatia do bolo.
3. Nunca se ouviram queixa dele.
4. A casa foi vendida pelo corretor.
5. Abraçaram-se com alegria e emoção.
6. Ele fez todo o trabalho em apenas um dia.
7. Os dois falaram-se rapidamente.
8. Cortaram o cabelo da criança.
9. Carla foi correr no parque.
10. O cabelo da criança foi cortado.
11. Praticam-se ações humanitárias.
12. O Detento havia sido libertado pelo juiz.

Aqui umas questões objetivas para vocês "treinarem"... Concentração, pessoal!

1. A locução verbal que constitui voz passiva analítica é:

a) fazer essa operação?
b) Você teria realizado tal cirurgia?
c) Realizou-se logo a intervenção.
d) A operação foi realizada logo.

2. O seguinte período apresenta uma forma verbal na voz passiva: "as pessoas comprometidas com a corrupção deveriam ser punidas de forma mais rigorosa". Qual a alternativa que apresenta a forma verbal ativa correspondente?

a) deveria punir
b) puniria
c) puniriam
d) deveriam punir

3. A oração "o alarma tinha sido disparado pelo guarda" está na voz passiva. Assinale a alternativa que apresenta a forma verbal ativa correspondente.

a) disparara
b) fora disparado
c) tinham disparado
d) tinha disparado

4. A oração "o engenheiro podia controlar todos os empregados da estação ferroviária" está na voz ativa. Assinale a forma verbal passiva correspondente.

a) podiam ser controlados
b) seriam controlados
c) podia ser controlado
d) controlavam-se

5. Assinale a oração que não tem condições de ser transformada em passiva.

a) As novelas substituíram os folhetins do passado
b) O diretor reuniu para esta novela um elenco especial
c) Alguns episódios estão mexendo com as emoções do público
d) O autor extrai alguns detalhes do personagem de pessoas conhecidas

Instruções para as questões subsequentes: Passe a frase dada, se for ativa, para a voz passiva, e vice-versa. Assinale a alternativa que, feita a transformação, substitui corretamente a forma verbal grifada, sem que haja mudança de tempo e modo verbais.

6. Não se faz mais nada como antigamente.

a) é feito
b) têm feito
c) foi feito
d) fazem


7. Saí de lá com a certeza de que os livros me seriam enviados por ele, sem falta, na data marcada.

a) iria enviar
b) foram enviados
c) enviará
d) enviaria

8. Em meio àquele tumulto, ele ia terminando o complicado trabalho.

a) foi terminando
b) foi sendo terminado
c) foi terminado
d) ia sendo terminado

9. Seria bom que o projeto fosse submetido à apreciação da equipe, para que se retificassem possíveis falhas.

a) submeteram - retifiquem
b) submeter - retificar
c) submetessem - retificassem
d) se submetesse - retifiquem

10. Se fôssemos ouvidos, muitos aborrecimentos seriam evitados.

a) ouvíssemos - estaríamos
b) formos ouvidos - serão evitados
c) nos ouvissem - se evitariam
d) nos ouvissem - evitariam


Gabarito nas aulas de aprimoramento.